sábado, 9 de agosto de 2008

Luziana Carvalho da Encarnação


Antes de começar a redigir este Memorial Descritivo, fiquei pensando se aqui caberia ou não iniciá-lo com algumas linhas que contém um pouco sobre os meus primeiros contatos com a Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) antes mesmo de imaginar que um dia eu ingressaria como estudante desta instituição. Decidi então começar contando sobre “antigos” contatos.

Minha história com a UESC começou quando eu ainda tinha cinco anos de vida. Lembro ainda da mão de uma de minhas tias segurando a minha, ainda pequena, levando-me para passear nos bosques da “ueque”, como eu mesma pronunciava. Para mim, que sempre morei no bairro, Salobrinho, onde fica localizada a instituição, a universidade representava no sentido mais amplo da palavra, os meus universos. Esses onde as crianças passeiam por dentro, por fora, em volta, no infinito fantástico do seu mundo lúdico. O contato com novos rostos que não os do meu bairro comprovavam que eu, de fato, não estava em meu bairro. Estava em contato com pessoas estranhas, em um lugar longe e diferente de casa. Longe mesmo! Mas recuso-me a falar aqui dessas diferenças, exceto para dizer que são injustas.

Mais tarde, aos 11 anos de idade, comecei a estudar a 5ª série do Ensino Fundamental em um dos pavilhões cedido pela própria UESC para a Escola Municipal do Salobrinho. Os diversos rostos circulavam por toda parte: corredores, salas da biblioteca (que ainda era um pequeno acervo no Pavilhão Adonias Filho), banheiros, jardins, pavilhões, e, eu ficava fazendo aquelas perguntas cabeludas de criança: o que toda aquela gente fazia ali? - Sinto necessidade de abrir um parêntese neste momento: (fui criada pelos meus pais ouvindo a frase chavão: “é preciso estudar para ser alguém na vida.”) E eu pensava: mas eu já não sou alguém ou vou nascer de novo? Nunca mencionaram que depois de algumas etapas de estudo eu teria que enfrentar o vestibular - outra injustiça – e que todas aquelas caras estavam tentando ser “alguém na vida”, no entendimento deles.

Enquanto os quatro anos de Ensino Fundamental passavam, eu ia me engajando em alguns projetos como o Arte e Movimento (Grupo de Dança e Teatro do Núcleo de Artes da UESC (NAU)), o projeto Menor Aprendiz onde estive na condição de telefonista por 12 meses na Torre central e o grupo de leitura Toca da Leitura criada pela Escola Municipal do Salobrinho na UESC.

Já familiarizada com aquele espaço antes mesmo de terminar o Ensino Fundamental, centrei no objetivo de ingressar no curso de Comunicação Social. Sabia que não seria fácil, tinha consciência de que o ensino público não preparava suficientemente um/a aluno/a para a vida menos ainda para uma prova de vestibular.

Acreditando em mim, meus pais me auxiliavam em minha vida estudantil. Muitas vezes me sentia perdida em relação ao motivo pelo qual eu queria entrar para a faculdade já que sonhava em ser hippie e viajar o mundo inteiro, falando língua de pessoas que se tornaria minha, acordando cada dia em um lugar diferente e tendo uma vida anormal segundo os preceitos da sociedade onde vivo.

Dentro destas indagações me surgia outra: Por que estava escolhendo um curso de Comunicação Social voltado para o jornalismo? Foi quando me dei conta de o que desejava era escrever em forma de denúncia sobre o injusto e o injustiçado a minha volta. Percebendo essa ânsia, me deparei com uma compreensão em relação ao meu desejo em adotar a vida hippie: eu queria fugir e fechar os olhos para o mundo que percebia. Desejava viver de um jeito que me isentasse de perceber a realidade a minha volta não me enxergando como sujeito que construindo conhecimento poderia viver e dar minha contribuição para transformação do mundo injusto que tanto me inquietava. Morar no bairro do Salobrinho e percebê-lo era para mim a motivação de ingressar num curso de Comunicação Social.

Passei dois anos tentando o vestibular dedicando-me à preparação desta “prova de fogo” paralelo ao trabalho. Ao final de uma das provas de vestibular, conheci uma estudante que me disse que o curso de comunicação social da UESC não era voltado para jornalismo e sim para rádio e TV. Pensei: e agora? Nesta terceira tentativa, estava trabalhando como vendedora numa boutique no centro de Ilhéus e quando não chegava atrasada num desses cursinhos preparatórios para vestibular, dormia entre uma aula e outra. (de tanto cansaço? Justificar para não parecer preguiça (RS.)

Foram abertas as inscrições para o vestibular e eu ainda não sabia o que faria. Pensei rápido: Quem quer ser jornalista tem que saber escrever e entender as especificidades da língua e da linguagem. Pensei rápido: será Letras. Diferente do que possam pensar, não considero que eu tenha caído de pára-quedas neste curso, pois os objetivos continuaram sendo os mesmos. Queria de alguma maneira interagir com o mundo.

Passado alguns dias, saindo exausta do trabalho debaixo de chuva, suplicando que algo de motivador em minha vida acontecesse aquele ano, recebi um telefonema de uma amiga que me pedia para eu sentar. Sentei num banco de uma praça. E ela me disse: “Quem está na chuva é para se molhar, você passou no vestibular da UESC!”

Diferente do que acontece com alguns/mas estudantes do curso de Letras da UESC o tempo fez com que eu me apaixonasse ainda mais pela área. Foi dentro deste curso que percebi com mais nitidez de que qual seja o conhecimento, este é fundamental para a compreensão do mundo e das coisas que nele há. Foi ainda no curso de Letras que me dei conta de que temos que aprender a olhar para o norte, sul, leste e o oeste, como me dizia um sábio professor. Em outras palavras, aquele universo que via na Universidade quando criança pode (podia) ser o Universo de Possibilidades. Possibilidades de ações, possibilidades de mudanças e possibilidades de transformações. Foi no curso de Letras que percebi que as instituições não são perfeitas, que os professores não os são, que alunos também não. Menos ainda quando todos, juntos, não interagimos harmonicamente para o tão esperado progresso. Isto me dá a serenidade de afirmar que somos seres condicionados e não determinados.

No curso de Letras também fui conhecendo “coisas” das quais nunca tinha ouvido falar. Tudo muito novo e o novo, às vezes, assusta. Entre uma aula e outra ouvi dizer que um/a bom/a aluno/a deve ser pesquisador/a. Levei um susto! Vinda do ensino tradicional achava que a pesquisa se restringia em abrir o livro e copiar o que nele havia.

Foi quando em 2005 participei do I Seminário de Pesquisa e Extensão em Letras – SEPEXLE, realizado de 03 a 05 de maio na UESC com carga horária de 36 (trinta e seis) horas. Este seminário foi, sem dúvida, um chamado a importância da pesquisa para a vida de um/a estudante. Um semestre antes de acontecer tive a oportunidade de ter tido um projeto (Ditos populares no sul da Bahia: Origens e Mudanças) aprovado pelo CNPq com a orientação da professora Gessilene Silveira Kanthack e por uma dessas escolhas que temos que fazer na vida, optei por trabalhar numa escola de Educação Infantil acreditando que estaria fazendo a escolha certa, pois neste período passei por muitos problemas financeiros e tinha que fazer esta escolha que não foi fácil, confesso no entanto o meu arrependimento. Depois do SEPEXLE me dei conta da grande importância que tem a pesquisa na vida estudantil contribuindo para o desenvolvimento de novos estudos na comunidade acadêmica e também no amparo de novas pesquisas.

Depois da compreensão da palavra Seminário, que o Mestre Rubem Alves sempre a define como sêmen, germinação, vida, peguei gosto por esta germinação incansável completamente despreocupada com o cumprimento das 200 horas das Atividades Acadêmicas científicos-culturais, ali, entre um evento e outro, a ansiedade era somente de germinar saberes, atenta sempre a uma idéia íntima: de que saber não é estar excessivamente certa de minhas certezas.

Após esta germinação, mergulhei como ouvinte e comunicadora no I Encontro com a Literatura Infanto-Juvenil que aconteceu no período de 19 a 20 de janeiro de 2006 com carga horária total de 18 (dezoito) horas. Confesso que quando foi oferecida esta disciplina à turma fiz inferências sobre a importância e relevância que ela teria para minha vida estudantil, profissional e pessoal. Não tardou muito para a grande descoberta: de que há muito neste universo lúdico do que acredita nessa vã filosofia. Ainda muito vista como Literatura somente destinada a jovens e adultos, descobri que á literatura não cabe rótulos se não o da liberdade em todo sentido que essa palavra pode traduzir. A alegria da confirmação de alguns conhecimentos empíricos que eu guardava em relação a essa descoberta foi mágica. Eu sempre me perguntava por que os livros de literatura infanto-juvenil tinham de ser assim classificados se eu era uma adulta que os lendo me transportava as mais diversas reflexões e lugares nunca idos.

Nesta viagem inesgotável, fui germinar no I Seminário de Español de los Alumnos de Estágio Supervisionado I del Curso de Letras de 20 a 21 de fevereiro de 2006, na condição de ouvinte com carga horária de 20 (vinte) horas nesta universidade. Já apaixonada pela língua española me deparei com algumas estratégias de ensino da mesma através de filmes, músicas e textos sugeridos pelos alunos que estavam concluindo o curso para serem trabalhadas em sala de aula. Essas são as oportunidades que tive e tenho de aplicar as teorias em sala de aula.

Nos dias 26 e 27 de junho deste mesmo ano, pedi permissão no trabalho para assistir ao I Fórum de Educação da Costa do Cacau com carga horária de 12 (doze) horas. Apesar de ter achado o evento mal organizado, com palestras fragmentadas, aproveitei para trocar experiências com muitos professores que ali estavam e reencontrei professores meus que não via há anos. A troca de experiências acontece até hoje nas páginas de encontros do mundo virtual.

Um mês após esse fórum, participei nesta instituição, como ouvinte, do curso A Arte de Contar Histórias que aconteceu em 08 de julho de 2008 com carga horária de 08 (oito) horas. Lembro-me exatamente da euforia dos participantes com a maneira lúdica como o palestrante nos apresentava essa arte e me dei conta que todos nós fazemos isso todo o tempo de alguma maneira e que um/a professor/a deve se apropriar dos artifícios desta arte para desempenhar suas atividades em sala de aula. Essa pode ser uma maneira lúdica do educador desempenhar o seu fazer pedagógico com os/as alunos/as.

Ainda neste mesmo mês tive o prazer de participar do Seminário Todo Sobre Almodóvar nos dias 20 a 21, com carga horária de 08 (oito) horas. Seria o segundo seminário organizado pela professora de español, Luciana Mariano que realizou um excelente trabalho junto aos seus alunos do turno noturno. O cinema estava realmente fazendo diferença em suas aulas e através deste seminário foi possível conhecer com mais propriedade sobre este cineasta tão comentado no mundo hispânico. O evento superou todas as minhas expectativas e teve uma repercussão muito positiva, ajudando-me inclusive a inovar meus planos de aula de língua española no curso particular onde trabalhava neste período.

Todos esses eventos até aqui me transportaram para lugares onde as reflexões sobre mim mesma e o que estava buscando profissionalmente se tornavam ainda mais aguçadas ao passo que quanto mais conhecia mais ainda queria conhecer e entender. Confesso que a responsabilidade de ser educadora ainda me assusta muitíssimo. Mas não considero isso negativo, pois sei que se há essa preocupação latente em mim é por que ainda acredito no que me propus a labutar acreditando igualmente no progresso do país que vivo.

E foram nestas viagens que me transportei até Brasília para participar de um dos meus grandes sonhos como estudante de Letras: XXVII Encontro Nacional de Estudantes de Letras (ENEL), realizado de 11 a 18 de agosto de 2006 na Universidade de Brasília (UNB) com carga horária de total de 90 (noventa) horas. Lembro que o esforço para participar deste encontro foi grande. Eu enfrentava problemas financeiros na época e o que tinha, com ajuda de minha mãe, era somente para pagar a inscrição, o do ônibus, eu vendi bombons de chocolates durante três semanas. O que havia me sobrado era somente um cartão de crédito com seis reais e, na carteira, mais três reais. Não desanimei. Seria uma aventura real por uma causa nobre. A animação era grande, as expectativas em conhecer a capital do país, ouvir Marcos Bagno pessoalmente, conhecer os Planaltos, assistir aos eventos e participar da festa do cabide eram tomadas por todos e todas. Fui comprometida a participar de todas as palestras e cursos oferecidos neste encontro. Cumpri! Juntei-me a um grupo que não via problema em conhecer a cidade fazendo caminhadas (tudo é muito distante em Brasília) participando do evento, conheci os pontos turísticos da “Grande Cidade” (não serei irônica, prometo). Ter ouvido Bagno falar sobre o preconceito lingüístico foi, para mim, o ápice das minhas leituras e posicionamentos em relação a esse assunto e fui mergulhando nas plenárias: “Multiculturalidade, um olhar Crítico sobre Diferentes formas de Poder”, “Reforma Universitária” ao ar livre e as veias artísticas afloradas nas peças teatrais e sarais literários daqueles estudantes unibenses que até hoje marcam presença nas viagens que faço. Este evento, para mim, foi o maior de todos, em todos os sentidos.

Em setembro deste mesmo ano, fui outra vez semear no seminário Alunos com necessidades Especiais e a formação de professores: desafios e perspectivas, que foi realizado nos dias 19 e 20 pelo Laboratório de História e Geografia (LAHIGE), com carga horária de 22 (vinte e duas) horas. Este seminário foi muito esperado por mim, pois neste período estava trabalhando numa escola na qual tinha dois alunos com necessidades especiais e poucos recursos me eram oferecidos para que eu soubesse lidar com eles. A inquietação em querer descobrir a melhor maneira de interagir com os meus alunos era grande e foi através deste seminário que descobri que o/a professor/a é quem deve buscar por conta própria cursos que os auxiliarão para vivenciar esta experiência. Falar de alunos especiais ainda é um assunto que me indigna muito pois tenho consciência do pouco que ainda é feito para que eles tenham melhores condições de viver plenamente seus direitos a começar pela estrutura física da própria UESC que ainda não oferecia uma melhor estrutura para essas pessoas. Há muito ainda por fazer e esse seminário motivou-me a escrever alguns projetos ainda em mente, no entanto certo de concretização.

No primeiro semestre do ano de 2006, fui estagiária no Centro de Estudos Portugueses Hélio Simões (CEPHS) e essa experiência foi para mim muito relevante no que diz respeito ao conhecimento que absorvi em organizações de seminários, sarais e encontros idealizados e concretizados ali. Entre esses eventos realizados pelo CEPHS não poderia deixar de mencionar o VII Seminário Internacional de Literaturas Luso-Afro-Brasileiras organizado pela “Mestra” Daniela Galdino e equipe no período de 23 a 26 de outubro. Neste evento fui ouvinte e monitora numa carga horária total de 64 (sessenta e quatro) horas. Não posso aqui deixar de citar que através deste seminário iniciei os meus primeiros contatos com as literaturas moçambicanas e senegalenses, essas que me levam para o encontro com minhas raízes, minhas crenças e meus interesses pela literatura africana. Este seminário ajudou-me na compreensão de que tratar de educação no Brasil exige também, um maior comprometimento com a educação multicultural.

Depois destas viagens aos mundos africanos, fui para mais uma também com fortes influencias africanas: Salvador. X Encontro Baiano dos Estudantes de Letras (EBEL) com o tema Sociedade das Letras: como o profissional de Letras pode transformar a sociedade, realizado no período de 02 a 05 de novembro de 2006. Lá participei do mini-curso Augusto dos Anjos – Identidade, Existencialismo e Autobiografia. Esse foi o único curso que realmente foi interessante, em minha opinião, pois propôs uma visão inovadora sobre os estudos até hoje feitos sobre a vida deste escritor polemizando o termo biografia e autobiografia.

Depois das férias de 2006 um novo semestre começava para mim, que estava desanimada com algumas experiências com aulas cheias de métodos tradicionalistas que engarrafavam a literatura e que não despertava em mim e nem nos colegas a literatura como forma de expressão, reflexão e liberdade, ao contrário, a única expectativa que tínhamos, era a de obter nota, infelizmente. O semestre foi passando e sempre encontrava uma motivação para novas buscas. Essas motivações às vezes chegavam das maneiras mais variadas, seja pela poesia de Manoel de Barros ou pelas crônicas de Rubem Alves, seja pela música de Gonzaguinha ou as aulas de professores/as que conseguiam me arrebatar em sala de aula. E fui para o universo da filosofia com a palestra História, Memória e Esquecimento em Nietzsche, ministrada pelo docente Lorival Pereira nesta mesma instituição, em 28 de março de 2007 com carga horária de 02 (duas) horas. Devo admitir aqui o meu interesse e entusiasmo pelo curso de filosofia, a minha curiosidade em embarcar neste mundo que ainda desconheço, mas que me instiga e instigou ao longo da trajetória.

No mês seguinte do dia 18 de abril, fui convocada para ser monitora no evento Encontro com Monteiro Lobato, realizado na UESC com carga horária de 20 (vinte) horas, evento incentivado pelo Programa de Incentivo à Leitura (PROLER) e o CEPHS. A relevância deste encontro foi renovadora para mim como leitora de Monteiro Lobato. Ajudou-me a observar mais atentamente sobre as intencionalidades e a genialidade desse ícone da literatura brasileira, que antes lia refletindo inocentemente.

Ainda no mesmo ano, participei e apresentei um trabalho na Universidade do Estado da Bahia no Campus V – Santo Antonio de Jesus, de 13 a 15 de dezembro, intitulado “Múltiples Miradas – Múltiples Culturas: Representaciones Culturales Latinoamericanas em Clases”. Este foi o I Seminario de Estúdios de Lengua Española que me possibilitou participar da oficina Bailando Flamenco com carga horária de 03 (três) horas e o minicurso Breve Panorama de las Literaturas Africanas en Español neste mesmo Campus com carga horária de 04 (quatro) horas. Este seminário contribui grandemente para minha trajetória como professora de Língua Española. Ele foi muito bem organizado, os cursos muito bem ministrados no sentido de atenderem as expectativas dos/as estudantes. Ousaram e usaram da criatividade na construção de trabalhos que traziam temas que merecem mais atenção na formação de nós, professores da língua espanhola, como: “Cómo conducir el alumno en su proceso de adquisición?”, “Cómo entretener el alumno en los ejercicios gramaticales?” “Qué Español enseñar.” Não tenho dúvida de que até o momento essas perguntas vivem a sondar meu fazer pedagógico mas o primeiro passo foi dado e as inquietações continuam. Qualquer que sejam as respostas, ainda não me bastará se o resultado não refletir no aprendizado dos/as meus/minhas alunos/as.

Ainda são muitos os eventos que aqui já não cabem serem citados pela limitação do espaço, mas ainda cabe mais um: Curso de Actualización de Profesores de Español de Brasil, realizado em fevereiro de 2008 e que foi sem dúvidas um divisor de águas em relação as minhas expectativas como professora de Lengua Española. Muitos foram os Semens vislumbrados nos Seminários, nos Grandes Encontros, nas Longas Jornadas, nos Debates, Fóruns, Palestras. Todo esse “Sêmen” que me empenhei em participar foi na certeza de que maior será a Germinação. Pode ser utópico, mas ai de mim se não acreditasse na utopia. Se não acreditasse, não teria começado o curso de Letras e nem estaria concluindo esta etapa. Sim! Por que para mim, o curso não acaba. O curso não se finda, é inesgotável. Como a própria palavra sugere, é um andamento, um caminho, um fluxo contínuo.

Eu não posso encerrar este memorial sem deixar de fazer alguns agradecimentos a pessoas que talvez não saibam, mas que me ajudaram de maneiras diversas a continuar, não desistir, a acreditar e seguir sem medo: Meus pais, Ana Pinheiro de Carvalho e José Luis Oliveira da Encarnação, quem me inspirava todos os dias desde o momento do despertar para o dia ao despertar para a vida.

Aqui também acentuo minha admiração ao profissionalismo brilhante da Doutora Gessilene Silveira Kanthack, um dos meus espelhos, ao da Doutora Júlia Oliveira. Agradeço também a Doutora Janaína Soares por quem tenho grande admiração e afeto, esta que sempre me incentivou, auxiliou e cumpriu lealmente com o seu papel, ajudando-me na preparação para o caminho vindouro. Deixo também aqui registrado meus agradecimentos à saudosa Mestra Daniela Galdino que me apresentou a Literatura como sempre sonhei conhecer na academia: Libertadora e Arrebatadora. Sou grata também a oportunidade de ter conhecido a Mestra Arlete Vieira da Silva que me lembrou algo que acreditava quando criança e que havia me esquecido quando me tornei adulta: que podemos sonhar e realizar coisas juntos. Que as palavras têm força quando paralelas à ação e que podemos juntos fazer “Gente mais gente”. Obrigada por não me deixar acreditar em coisas que julguei acreditar sozinha. Será impossível aqui também não mencionar a forte presença que me acompanha desde o Ensino Fundamental, a do meu Mestre eterno, Genivaldo Guimarães dos Santos, quem me ensinou a perceber o mundo a minha volta com sua prática de ensino por uma vida mais digna, justa e, portanto, plena. Obrigada por me mostrar a arte de perceber o outro e respeitá-lo acima de quaisquer circunstâncias.

Registro alguns desejos não realizados na trajetória do meu curso nesta universidade. Eu gostaria muito de ter tido o prazer de ser aluna de professores que sempre ouvi falar pelos alunos polemicamente pelos corredores. Na verdade, tenho muito cuidado em generalizar pessoas a situações por entender que a experiência que um teve não pode ser a experiência que terei. Desejei muito, dentro da universidade, ser mais participativa na luta por uma universidade mais justa e pública, mas confesso que minha decepção com a falta de articulação política dos próprios estudantes foi maior que essa vontade e decidi fazê-lo fora dela. Outro desejo aguçado foi o de ter gritado em todas as aulas de Latim que assisti nesta instituição afirmando que “Eu não penso com o dedão do pé e que merecia respeito”. Eu não posso seguir mais contando os meus desejos, eles são muitos em relação à melhoria do curso de Letras e me sinto á vontade para falar aqui já que eu o vivenciei senão de uma forma plena, me doando da melhor forma que pude dentro das minhas condições humanas.

Retomando a minha infância, percebi que algumas coisas não mudaram. As caras nos corredores da “ueque” continuam diversas e diferentes, ainda existe vários universos dentro da Universidade, mas eles já não são limitados e maiores que a minha satisfação em saber que até aqui meu dever foi cumprido e que a minha inquietação e vontade em interagir com o mundo em busca da transformação em prol do bem comum segue com a mesma expectativa, garra e determinação.

Onde quer que haja mulheres e homens há sempre o que fazer, há sempre o que ensinar há sempre o que aprender.”

(Paulo Freire)

L. C. Encarnação


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