sábado, 9 de agosto de 2008

Guilherme da Silva Caspar

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Afirmo que a única finalidade da ciência é
aliviar a miséria da existência humana.
B. Brecht

Venho de São Paulo, cidade onde nasci e que só deixei para vir morar em Ilhéus. Iniciei meus estudos acadêmicos na Universidade Bandeirante de São Paulo – Uniban, em 2002, onde cursei o primeiro ano e, mais tarde, tentei a transferência para a UESC. Como não consegui, prestei vestibular em 2005, convalidei as disciplinas cursadas e aqui estou eu me formando.

Sempre gostei de ler e estudar, mas a respeito do que me atrai. Dessa forma, após várias reflexões sobre qual curso escolher, entre eles Filosofia e História, me decidi pelas Letras. Nunca tinha pensado no nome desse curso como Ciência das Linguagens, como propôs Marcos Bagno durante o III Selipe. Gostei tanto do curso quanto da proposta de Bagno que lutarei por essa mudança terminológica.

O último evento acadêmico do qual participei foi o já citado Selipe – Seminário de Língua Portuguesa e Ensino, realizado em maio de 2008, aqui na UESC. No primeiro dia ouvi a conferência da Bagno, que me fez lembrar das minhas primeiras aulas de lingüística em São Paulo. Ler a Língua de Eulália foi deleitoso, no entanto, as discussões geradas em sala de aula, decorrentes dessa leitura, foram mais. Defesas ferrenhas do ensino tradicional versus “novas“ propostas de ensino da Língua Portuguesa.

Hoje, após alguns anos, percebo que os mesmos assuntos são retomados em apresentações como a de Bagno, ora com uma abordagem mais acadêmica e técnica, ora mais descontraída e exemplificada. Vejo que, por mais de uma década, o esforço de um grupo de pesquisadores e educadores, em busca de um educar mais justo e adequado em sala de aula, propõe contínua e insistentemente novos olhares para o ensino, se desdobra e se multiplica de forma audaciosa e vigorosa diante de tantos séculos de tradição gramatical.

Quanto às AACCs, inicialmente tive uma impressão ruim, pois não as conhecia e, logo no primeiro ano, alguns colegas de turma começaram a amaldiçoá-las. No entanto, tudo mudou a partir da 17ª Bienal Internacional do Livro quando ouvi Sírio Possenti e Maria Helena de Moura Neves, pois passei a ser mais sujeito de minhas ações e a gostar desses eventos. Foram cinco dias de contato com um mundo novo através do Projeto Universidade (40h), de 29 de abril a 3 de maio de 2002, no Centro de Exposições Imigrantes, em São Paulo. Eu mal tinha ouvido falar em lingüística e já estava diante de pessoas, renomadas na área, abordando discussões sobre conteúdos, práticas pedagógicas e políticas educacionais. Tive contato com a ala dos gramáticos também, além de fazer algumas amizades e comprar meus primeiros livros.

Nos dias 25 e 27 de setembro e 16, 17 e 18 de outubro do mesmo ano, participei da Jornada de Letras: Língua / Literatura / Ensino – Novos Olhares (18h), na própria Uniban (campus Marte), em São Paulo. Tive a oportunidade de acompanhar de longe a agitação na organização de um evento. As novidades foram os relatos de experiências docentes e uma palestra ligando vários aspectos culturais, feita por uma professora da casa, a partir da projeção do filme A marvada carne (1985), de André Klotzel. Língua, literatura, pintura e cinema postos no mesmo balaio e sendo abordados ao mesmo tempo. Foram reflexões sobre a vida interiorana e o sonho de ir para a cidade grande. A surpresa para todos foi saber que uma colega de turma era parente distante de Almeida Jr., pintor brasileiro referido no filme. Aprendi que este pintor surpreendeu seus contemporâneos ao utilizar técnicas de pintura realista aprendidas em Paris para pintar o matuto ituano picando fumo e amolando machado.

Já em Ilhéus, me deparei com mais novidades, mais surpresas e novos contatos. Iniciando o terceiro semestre aqui na UESC, a partir de 2005, outros caminhos me esperavam. Entre 3 e 5 de maio, participei do I Seminário de Pesquisa e Extensão em Letras – SEPEXLE (24h). Recém-chegado e ainda retraído diante de tantas discussões sobre literatura, línguas e lingüística, me impressionei com a participação de uma professora da casa, que estava na platéia, quando ela expôs, com outras palavras, é claro, que “mesmo os escritores e teóricos consagrados e em evidência podem, e devem, ser questionados sempre que um argumento plausível for construído”. Isso me fez refletir sobre a interação direta e necessária de qualquer participante de um evento e repensar minha participação como ouvinte.

Pensando nas inter-relações disciplinares, me aventurei pela História. No período de 18 a 21 de outubro participei do XVI Ciclo de Estudos Históricos: “Diversidade, História e Ensino” (36h) e do mini-curso Relações entre História e Literatura (6h), promovidos na UESC. A diáspora negra e suas extensas conseqüências foram os assuntos que mais me impressionaram, os maus-tratos e humilhações sofridas pelos negros e os reflexos atuais em nossa sociedade. O mini-curso foi comprometido pelas freqüentes saídas da professora, e estou até hoje sem saber as razões. Pouco ou quase nada foi aproveitado dessa esperada exposição da relação entre História e Literatura.

Já no final do ano, concluí o curso Fenômenos Semânticos (30h), realizado no período de 12 de abril a 8 de novembro, na UESC. Uma contribuição importantíssima para a minha formação. Realizamos leituras e discussões sobre vários gêneros abordando sinonímia, paráfrase, inferência, pressuposição e ambigüidade, entre outros aspectos.

Em 2006 o destaque foi o XXVII Encontro Nacional de Estudantes de Letras – ENEL (90h), realizado entre 11 e 18 de agosto na capital do país. Além de conhecer Brasília e o enorme campus da UnB, assisti a apresentação de propostas de melhoria do ensino através da Gramática Gerativa, de novas posturas de professores e do uso de novos materiais didáticos e, por outro lado, ouvi discussões sobre as angústias dos alunos diante do aprendizado dessa mesma gramática. Marcos Bagno e Márcia Scherer mostraram as riquezas da língua em uso, sua contribuição em sala de aula e a necessidade urgente de se colocar os avanços científicos, alcançados nos estudos das linguagens, em prática no cotidiano dos alunos, de maneira dinâmica. Às vezes acho que um evento extenso como esse traz uma carga de informação tão grande que prejudica a absorção de uma parte dela.

A ousadia e a vontade de partilhar um pouco de minhas experiências com um público leitor, me levaram a uma aventura jornalística, isto é, me arrisquei a escrever uma reportagem. Tive essa idéia quando vi um grupo de pessoas praticando rapel no bairro onde moro. Fui até em casa buscar gravador e máquina fotográfica para, pelo menos, recolher material para um esboço. Tida como pronta, o jornal ilheense Foco Regional teve mais ousadia do que eu e publicou, na página 15, a matéria Rapel atrai aventureiros e profissionais (10h), na edição de 15 de setembro de 2006. Hoje ela está publicada em meu blaite: http://gscreportagem.blogspot.com/.

Nesse ano iniciei minha contribuição voluntária de ação de extensão após o convite para integrar a equipe de monitores do Programa de inclusão digital para a população de baixa renda do entorno da UESC (50h), no qual atuei como monitor de informática entre outubro e dezembro. Criado pelo Núcleo de Estudos Sociedade, Educação e Políticas Públicas – NESEP, uma unidade do Departamento de Filosofia e Ciências Humanas – DFCH, esse programa se iniciou promovendo um treinamento básico através da Oficina Teoria e Prática Educacional em Projetos e Inclusão Digital: técnicas de planejamento execução e avaliação (20h). Foi uma experiência maravilhosa lidar com a relação ensino-aprendizagem num campo atraente para os alunos e que adoro. Pude perceber que vários temas sociais podem ser trabalhados de maneira instigante para os alunos utilizando-se o computador e a Internet.

Ainda em 2006, fui convidado pelo Centro de Estudos Portugueses Hélio Simões – CEPHS – para ser membro da comissão artística (32h) do VII Seminário Internacional de Literaturas Luso-Afro-Brasileiras (32h), ocorrido entre os dias 23 e 26 de outubro no campus da UESC. Foi uma experiência nova que me colocou em contato com professoras das demais universidades estaduais baianas. Além disso, participei do mini-curso Vozes Femininas na Literatura Africana (8h), oferecido pela são-tomense Inocência Mata, professora da Universidade de Lisboa. Ela falou sobre as proibições do ensino de literatura em Moçambique e Angola, a forte ligação estética entre a literatura colonial e colonizadora, a discriminação das línguas nativas e a inviabilidade de se produzir literatura nessas línguas, pois a alta sociedade não as lê e nem os nativos, estes por não serem alfabetizados.

No dia 22 de novembro, ocorreu o Curso de Contação de Histórias para a Terceira Idade (8h), do qual participei como monitor. Minha proximidade com a coordenadora do Proler, programa que realizou o evento, me deu liberdade para criar um desenho, relacionado ao tema, para ilustrar os certificados. Para a minha alegria, a idéia foi aceita e o resultado está anexo a esse memorial. Ou seja, além de colaborar na organização do curso, monitorar sala de aula e emitir certificados para todos os envolvidos, tive a oportunidade de divulgar meu trabalho artístico através de um documento oficial do evento, representando o ficcional dessas contações.

Depois de publicar uma reportagem no jornal Foco Regional, de Ilhéus, criei coragem para escrever uma crônica. A idéia surgiu após uma conversa calorosa com colegas da UESC a respeito das influências culturais que sofremos, mais especificamente sobre as datas comemorativas. Assim produzi Repensando o Natal (10h), que foi publicada, na página 18, em 26 de dezembro de 2006. Está disponível no endereço eletrônico http://gsccronica.blogspot.com/.

Um convite especial do Núcleo de Artes da Universidade – NAU, me permitiu encerrar o ano como percussionista através da atividade artístico-cultural Musical Ode à Alegria (10h). Embora uma ode, houve o momento de homenagem a Luis Gonzaga, do qual participei com muito orgulho e prazer. Foram vários cursos e vários ensaios até me sentir seguro para me apresentar em público. Crescimento pessoal a partir da arte, isso é ótimo.

Em 2007, após conversar com o diretor da Casa dos Artistas – um espaço cultural localizado no centro de Ilhéus – decidi escrever uma matéria para informar à população da cidade sobre as dificuldades que a Casa atravessava, pois se trata de um local de difusão da cultura regional. Em 22 de março o jornal Foco Regional me cede espaço novamente para publicar, na página 7, Entendendo a Casa dos Artistas (10h). Nesse momento, tanto pela minha formação quanto pelo meu envolvimento com o diretor do estabelecimento, já me sentia mais seguro para produzir para o jornal. Está publicada atualmente no seguinte endereço eletrônico: http://gsccronica.blogspot.com.

Aprimorando meu voluntariado, participei do I WIND – Workshop de Inclusão Digital (4h) durante a VII ERBASE – Escola Regional de Computação Bahia-Alagoas-Sergipe, promovido pela Sociedade Brasileira de Computação e realizado no período de 16 a 20, no campus da UESB. Foram discutidos os problemas ambientais causados pela sociedade da informação, tais como o aquecimento global, a destruição da camada de ozônio, a poluição do ar, da água e do solo, além do “e-lixo”, ou seja, a má destinação de equipamentos ultrapassados. As práticas de ensino foram partilhadas num grande laboratório de informática, montado especialmente para o evento, e coordenadas por representantes do Programa Onda Digital, iniciativa idealizada pela Universidade Federal da Bahia – UFBA. Estando em Vitória da Conquista pela primeira vez, não pude me privar de conhecer parte dessa cidade baiana.

Mais uma crônica nasce lentamente em meu computador. Indignado com alguns apresentadores e programas de TV, resolvi me manifestar de maneira incisiva e questionadora quanto ao uso desse aparelho, a energia elétrica consumida e principalmente os valores sociais que ele destrói. Esse texto foi publicado em Ilhéus, por meio do jornal Foco Regional, em 22 de maio de 2007, na página 14 e denominado Levando a TV a sério (10h). Ele também está publicado no endereço eletrônico: http://gsccronica.blogspot.com.

Na condição de graduando, encerro minhas participações no III Seminário de Língua Portuguesa e Ensino – Selipe (24h), realizado na UESC entre 19 e 21 de maio de 2008. Marcos Bagno mudou a programação em cima da hora e apresentou um balanço dos últimos dez anos de educação lingüística no Brasil, envolvendo a importância dos PCN, estudos de variações lingüísticas, preconceito lingüístico, questões do setor editorial e o Plano Nacional do Livro Didático – PNLD. Esses, além de outros assuntos abordados, estão presentes na realidade dos educadores e uma reflexão se faz necessária para percebermos quanto e como cada um deles evoluiu.

Quanto ao evento em si, fiquei decepcionado com a formalidade da conferência de abertura, creio que, pelo tema abordado e pela descontração da apresentação, faltou interação da platéia, perguntas e observações que sempre contribuem. Proponho uma reformulação da conferência, uma nova quebra de paradigma ou uma programação de abertura diferente, sempre em prol da educação.

Em seguida, Ser autor na escola e de bons textos foi o tema central da mesa-redonda. Exposições sobre a necessidade da subjetividade, coesão, coerência, dialogicidade, articulação e competências textuais nas produções dos alunos reforçaram os conteúdos vistos ao longo dos últimos semestre e minhas crenças como educador.

Participei também do mini-curso Textos de hipermídia: mutações no ler e no escrever? (4h). E-mail é gênero ou suporte? A partir de questões como esta, navegamos por criticidade na busca de informações, não-linearidade da hipermídia, reconfiguração no formato da escrita, uso de ícones representantes de emoções, nova grafia, conversa por escrito, mescla de gêneros, facilidade de exposição de idéias através de blogues e, principalmente, novas atitudes e posturas dos educadores. Vários aspectos de um meio rico e fascinante que já faz parte da vida de vários alunos. Embora eu já conhecesse uma parte do conteúdo apresentado, a troca de experiências entre os participantes foi valorosa. Me senti estimulado ao ouvir relatos sobre aulas e oficinas realizadas pelos colegas.

Enfim, tantos outros eventos, tantas outras trezentas horas, aqui não relatadas em detalhes, se diluem ao longo desses quatro anos e meio de estudos.

Em 2005 participei de Conhecendo Shakespeare, no Instituto Nossa Senhora da Piedade e da Oficina de Teoria Musica I, no NAU-UESC.

No ano de 2006 estive no I Encontro com a Literatura Infanto-Juvenil, pelo CEPHS; I Seminario de Español de los Alumnos de Letras, pelo DLA; Oficina de Técnica Vocal I e Percussão I, pelo NAU; palestra A Hegemonia Neoliberal e a Questão Educacional Contemporânea, pelo LAHIGE; Todo Sobre Almodóvar, pelo DEE; Sofística e Retórica na obra de Raduan Nassar, pelo DFCH e DLA, todos na UESC. Além do Fórum de Educação da Costa do Cacau, pela Prefeitura Municipal de Ilhéus, em Ilhéus, e da 19ª Bienal Internacional do Livro, pela Francal Feiras, em São Paulo.

E em 2007 tomei parte da Oficina de Teoria Musical II, Educação Musical-Violão II, Percussão II e Oficina de Técnica Vocal II, pelo NAU; Mito, Cuento y Cine: La Lógica de la Imaginación, pelo CEPHS; como monitor do Curso de Contação de História para a Terceira Idade, pelo Proler; História, Memória e Esquecimento em Nietzsche e A estética em Nietzsche, pelo LAHIGE. Todos na UESC.

Após passar por duas bienais do livro e vários eventos com pontos de venda, consegui amealhar, sem perceber, mais de cem títulos em minha estante (cinco deles com dedicatória e autógrafo), não sei se é muito ou pouco, mas me lembro claramente de um conselho em sala de aula: “comecem a formar sua própria biblioteca”. Hoje, embora modesta, trás parte das idéias que vêem me norteando nesses últimos anos. Uma prateleira democrática com espaço para cordel, clássico, gramática, novela sociolingüística, conto, metodologia, crônica, filosofia, romance, antologia poética, guia prático de análise literária, teoria, almanaque, revista, jornal, gibi, dicionário e um envelope especial, usado em meus estágios, com amostras de vários outros gêneros.

Após alguns semestres de correrias, dificuldades, alegrias, falas, escritas, exigências e realizações, me faltaria latim, inglês, português e qualquer outro idioma se me colocasse a elogiar o corpo docente que me apoiou nessa jornada. Assim, deixo aqui meu carinhoso e imensurável obrigado a cada uma. Por ordem de entrada na minha vida: Gessilene Antunes Kanthack, Maria Preti Nilva, Lucia Désirée Netto, Graça Serafim Góes, Daniela dos Anjos Galdino, Vera Piaget Beck, Vera Marx Mendonça, Sandra Bosi Sacramento, Júlia Bruno Oliveira, Luciano Plotino Reis, Marileide Monteiro Santos, Sandra Cury Abreu, Odilon Orlandi Pinto, Ângela Encantado, Antônio Folk Xavier, Sarah Mozart Nogueira, Solange Beethoven Skromov, Élida Derrida Ferreira, Clínio Pierce Jorge, Marialda Kleiman Jovita, Arlete Freire da Silva, Antônio Granger Balbino, Maria Fuentes D´Ajuda, Patrícia Paz Pina e Isaias Lakatos Carvalho.

Após essa graduação, que venha o mestrado.

G. S. Caspar
http://caspargs.blogspot.com

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2 comentários:

Unknown disse...

Oi Guiiii!

Que bom te ler! Que saudade! Que alegria!
Ainda estou sem internet em casa aqui no Prado e hoje entrei especialmente para ler o seu memorial e conhcer o "nosso" espaço em teu blógui!
Quero te dizer que foi um prazer imensurável ser tua colega e amiga durante esses semestres. Você é uma das minhas lembranças maravilhosas an UESC. Aproveitando esse espaço, quero te desejar sucesso e muita sorte no mestrado. Que venha né??!! Um super beijo da amiga que te adora um montão do tamanho do céu infinito! rs rs rs Luz

Unknown disse...

ahhh, na primavera deste ano estarei esperando minha tela OFRENDA by G.S.C. tá??

Adoro seu traço!! E guardo o meu certificado "Contação de Histórias" com seu desenho até hoje em meu mural da sala. Amei!!