sábado, 9 de agosto de 2008

Edlane Brandão Mendes Bacelar

Retornar

Vencendo um gigante

“Podemos nos alegrar, igualmente, quando nos encontrarmos diante de
problemas e lutas pois sabemos que tudo isto é bom para nós – ajuda-nos a
aprender a ser pacientes. E a paciência desenvolve em nós a força de caráter e
nos ajuda a confiar mais em Deus cada vez que a utilizamos, até que finalmente a
nossa esperança e a nossa fé fiquem fortes e sólidas.” (Romanos 5:3-4)

Minha trajetória acadêmica na UESC, começou em 1992, quando ainda muito nova, com 17 anos, sem motivação e sem muitas perspectivas iniciei o curso de Letras. Sempre estudei em escola pública e escolhi o curso porque fiz magistério e achei que Letras seria mais apropriado. Entretanto, por conta dessa falta de motivação e por nessa mesma época começar a trabalhar como atendente em um escritório de contabilidade, a partir do 2º semestre me tornei aluna irregular até abandonar o curso de vez em 1995. Dessa forma, fiquei nove anos sem contato nenhum com a universidade.
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A vontade de voltar surgiu a partir do nascimento da minha filha em 2000. Quando ela nasceu eu só pensava em cuidar dela e a melhor forma era trabalhando meio período. Em 2001, surgiu a oportunidade de fazer um teste para prestar serviço como professora à Prefeitura de Itabuna. Não pensei duas vezes, fiz o teste, passei, pedi demissão do trabalho e comecei a dar aulas a noite.
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Em 2002, a Prefeitura abriu concurso público para professor, fiz o concurso, passei e iniciei a carreira como professora efetiva do Município de Itabuna. A partir daí só pensava em me especializar e surgiu a vontade de voltar à UESC. Então, a cada semestre eu pedia retorno e em 2004, após uma entrevista com a professora Nair, meu pedido foi deferido. Na entrevista não falei muito do passado, nem o que me levou a abandonar o curso, fiz questão de ressaltar a minha disposição em estudar e a terminar o curso.
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No 2º semestre do ano de 2004, retornei as aulas na UESC e confesso que foi muito difícil, principalmente por conta das disciplinas de inglês, da falta de uma turma fixa, pois cada disciplina que fazia era em uma turma diferente e dos malabarismos para conciliar minha vida pessoal e profissional, parecia que estava enfrentando um gigante. Mas a minha fé em Deus e a perseverança me impulsionaram e eu não desanimei. Nesse período estava dando aula numa escola no bairro Nova Califórnia para crianças do Ciclo da Infância, ou seja, de 1ª e 2ª série, e estava angustiada e ao mesmo tempo aliviada por perceber que estava se configurando em mim uma certeza: não gostava de dar aula para crianças nesse nível escolar.

No ano de 2001, quando assumiu a nova gestão municipal em Itabuna, iniciou-se um processo de mudança do sistema educacional que passou a funcionar em 2002, como regime de ciclos da formação humana. Para consolidação dessa mudança, a Secretaria de Educação promoveu vários cursos de capacitação que especialmente no meu caso – tinha pouquíssima experiência em sala de aula - foram de grande relevância para o meu desenvolvimento profissional. Dentre todos os cursos, palestras e seminários, destaco dois em especial, o primeiro foi o Seminário com o Dr. PhD em Educação, o professor Miguel Arroyo, intitulado Escola Grapiúna: ação de todos nós, com carga horária total de 16h, que me fez perceber as benesses de trabalhar no regime de ciclos, principalmente a importância da inclusão e da valorização da auto-estima do aluno. O segundo foi um curso em educação especial com a Psicóloga e Professora Sueli de S. Ribeiro, com o título de Distúrbio de Conduta e Dificuldades de Aprendizagem, com a carga horária total de 60h, onde conhecemos um problema de saúde mental muito comum chamado TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade), suas causas e como ajudar a criança com esse distúrbio, embora no que diz respeito às causas, o que existe em termos de compreensão são mais hipóteses do que certezas.

No ano de 2005, por conta de um problema de saúde: desenvolvi um cisto nas cordas vocais, tive que sair de sala de aula. Admito que foi perfeito, pois mudou a minha rotina, tinha mais tempo pra estudar e pra dar atenção a minha família. Nesse ano, participei de um Seminário promovido pela API (Associação dos Professores de Itabuna), intitulado VIII Seminário Regional de Educação em Defesa e Promoção da Educação Pública, no período de 13 a 15 de julho, com carga horária total de 24h, que teve uma palestra excelente com a Secretária de Educação da Cidade de Belo Horizonte, a Profª Maria do Pilar, na época Presidente da UNDIME (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação). Em sua palestra ela falou do ensino por ciclos, concepção do ciclo e mostrou os avanços obtidos em Belo Horizonte, uma cidade com 185.000 alunos e 10.000 professores.

Na UESC, onde realizei a grande maioria dos seminários que participei, meu percurso se iniciou com o I Seminário de Morfologia da UESC, ocorrido no dia 04 de agosto de 2006, com carga horária de 8h, onde questões lingüísticas muito pertinentes à nossa profissão foram discutidas. Foi um seminário especialmente interessante porque foi promovido pelas alunas do 7º semestre de Letras juntamente com a professora Maria D’Ajuda Alomba. Dois meses depois, chegou outubro de 2006, um mês repleto de atividades e começaram com o III Seminário de Línguas Estrangeiras, IX Seminário de Língua Inglesa e VI Encontro das Línguas Espanhola e Francesa, no período de 03 a 05 de outubro, com carga horária de 24h, onde muitas questões interessantes a respeito, principalmente, do ensino de uma segunda língua foram debatidos. Praticamente uma semana depois, assisti ao XII Seminário de Iniciação Científica da Universidade Estadual de Santa Cruz, no período de 17 a 20 de outubro, com a carga horária de 28h. Seminário onde entendi que a Iniciação Cientifica é um instrumento que permite introduzir os estudantes de graduação na pesquisa cientifica e que a Universidade precisa colocar o aluno desde cedo em contato direto com a atividade científica e engajá-lo na pesquisa.

Ainda no mês de outubro de 2006, houve o VII Seminário Internacional de Literaturas Luso-Afro-Brasileiras, entre os dias 23 e 26, com carga horária total de 32h. Participei como ouvinte das palestras e do Minicurso Antropologia e Literatura, com carga horária de 8h. Esse foi um dos seminários mais importantes pra mim, principalmente porque foi o primeiro em que eu apresentei uma comunicação intitulada “O zoomorfismo na vida do retirante sertanejo”, com carga horária de 20h. Antes da apresentação fiquei muito nervosa e ainda mais quando constatei que os outros apresentadores eram um mestre e uma graduada em História, mas como tinha estudado muito e geralmente tenho uma boa desenvoltura em apresentações orais, sem modéstia, me saí muito bem e fiquei muito feliz.
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Depois dessa enxurrada de seminários, me permiti uma pausa e só em maio de 2007 retornei a minha corrida em busca do conhecimento. Então me inscrevi no curso Tempo, Aspecto e Modo enquanto categorias semânticas, ministrado pela professora Eliúse, que eu não conhecia, mas tinha muita curiosidade de conhecer, pois só ouvia bons comentários a seu respeito. O curso foi muito bom e correspondeu a minha expectativa, eu assisti a todas as aulas, no período de 08 de maio a 12 de junho, perfazendo uma carga horária de 15h. Ainda no mês de maio de 2007, assisti ao II Seminário de Pesquisa e Extensão em Letras e do I Simpósio de Linguagem, realizados nos dias 28 a 31, onde participei do minicurso intitulado “Letras Acontecendo-Linguagem, Arte e Conhecimento”, com a carga horária de 4h.

Após mais um bom período sem seminários, veio um outro muito importante pra mim: o XII Seminário Nacional e III Seminários Internacional Mulher e Literatura do GT Mulher e Literatura da ANPOLL, realizado no período de 09 a 11 de outubro de 2007, com carga horária de 30h. Nesse seminário apresentei o pôster intitulado “Viagem de Cecília Meireles: o poder da linguagem em despertar o imaginário do leitor”, com a carga horária de 15h. Foi um trabalho muito bom sob a orientação de Daniela Galdino, uma professora muito querida. O Seminário todo foi excelente, com apresentações bastante proveitosas, que em alguns momentos me deixaram emocionadas.

Tenho hoje, no final do curso, que por vários aspectos representou pra mim um desafio muito grande, a sensação de que venci o gigante. Sinto muita alegria por tudo que vivenciei na UESC, o conhecimento adquirido e que agora mais do nunca sei que não devo parar. Tudo foi importante, as amizades construídas, as experiências vividas, o convívio com professores fantásticos que me transmitiram o que tinham de melhor, que me ajudaram muito na minha vida enquanto estudante, profissional e enquanto mulher. Com relação a questão profissional, preciso registrar aqui que gosto muito da educação, mas durante esses anos, se consolidou em mim a vontade de não dar aulas, de não ser professora, pois creio que essa escolha envolve vários aspectos, envolve nossa motivação, a nossa idéia de mundo, de sociedade e de cidadania, envolve aspectos afetivos e aspectos financeiros e creio que antes mesmo de saber como construiremos nossa trajetória como professores, precisamos estar conscientes de que trabalharemos com a formação de pessoas, que cada aluno é um ser singular, que temos uma grande responsabilidade em nossas mãos e que não devemos ficar eternamente só reclamando das mazelas da profissão. Por todas essas razões, por ter essa consciência, definitivamente, não quero encarar a sala de aula. Atualmente, continuo trabalhando numa escola do Município de Itabuna, desempenhando a função de Secretária e sou verdadeiramente apaixonada pelo meu trabalho, pois a cada dia, a cada nova etapa do trabalho tento executá-lo da melhor maneira possível e é isso que me traz alegria, paz e a certeza do dever cumprido. E sei que meus estudos, onde quer que eu esteja não podem parar.
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E. B. M. Bacelar
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